O grupo
Pagan War lança site de alta qualidade direcionado à venda de acessórios, como
cintos, braceletes, coturnos, pulseiras, correias, entre outros.
quarta-feira, 30 de maio de 2012
Bertrand Russell - A Filosofia entre a Religião e a Ciência - Parte Final
A
Filosofia entre a Religião e a Ciência
Parte Final
Os efeitos dessa mudança foram importantes. A verdade não mais era
estabelecida mediante consulta à autoridade, mas por meio da meditação íntima.
Desenvolveu-se, rapidamente, uma tendência para o anarquismo na política e
misticismo na religião, o que sempre fora difícil de se ajustar à estrutura da
ortodoxia católica. Aconteceu que, em lugar de um único Protestantismo,
surgiram numerosas seitas; nenhuma filosofia se opunha à escolástica, mas havia
tantas filosofias quantos eram os filósofos. Não havia, no século XIII, nenhum
Imperador que se opusesse ao Papa, mas sim um grande número de reis heréticos.
O resultado disso, tanto no pensamento como na literatura, foi um subjetivismo
cada vez mais profundo, agindo primeiro como uma libertação saudável da escravidão
espiritual mas caminhando, depois, constantemente, para um isolamento pessoal,
contrário à solidez social.
A filosofia moderna começa com Descartes, cuja certeza fundamental
é a existência de si mesmo e de seus pensamentos, dos quais o mundo exterior deve
ser inferido. Isso constitui apenas a primeira fase de um desenvolvimento que,
passando por Berkeley e Kant, chega a Fichte, para quem tudo era apenas uma
emanação do eu. Isso era uma loucura, e, partindo desse extremo, a filosofia
tem procurado, desde então, evadir-se para o mundo do senso comum cotidiano.
Com o subjetivismo na filosofia, o anarquismo anda de mãos dadas
com a política. Já no tempo de Lutero, discípulos inoportunos e não
reconhecidos haviam desenvolvido a doutrina do anabatismo, a qual, durante
algum tempo, dominou a cidade de Wünster. Os anabatistas repudiavam toda lei,
pois afirmavam que o homem bom seria guiado, em todos os momentos, pelo
Espírito Santo, que não pode ser preso a fórmulas. Partindo dessas premissas,
chegam ao comunismo e à promiscuidade sexual. Foram, pois, exterminados, após
uma resistência heróica. Mas sua doutrina, em formas mais atenuadas, se
estendem pela Holanda, Inglaterra e Estados Unidos; historicamente, é a origem
do "quakerismo". Uma forma mais feroz de anarquismo, não mais
relacionada Com a religião, surgiu no século XIX. Na Rússia, Espanha e, em
menor grau, na Itália, obteve considerável êxito, constituindo, até hoje, um
pesadelo para as autoridades americanas de imigração. Esta versão moderna,
embora anti-religiosa, encerra ainda muito do espírito do protestantismo
primitivo; difere principalmente dele devido ao fato de dirigir contra os
governos seculares a hostilidade que Lutero dirigia contra os Papas.
A subjetividade, uma vez desencadeada, já não podia circunscrevem-se
aos seus limites, até que tivesse seguido seu curso. Na moral, a atitude
enfática dos protestantes, quanto à consciência individual, era essencialmente
anárquica. O hábito e o costume eram tão fortes que, exceto em algumas
manifestações ocasionais, como, por exemplo, a de Münster, os discípulos do
individualismo na ética continuaram a agir de maneira convencionalmente
virtuosa. Mas era um equilíbrio precário. O culto do século XVIII à
"sensibilidade" começou a romper esse equilíbrio: um ato era admirado
não pelas suas boas conseqüências, ou porque estivesse de acordo com um código
moral, mas devido à emoção que o inspirava. Dessa atitude nasceu o culto do
herói, tal como foi manifestado por Carlyle e Nietzsche, bem como o culto
byroniano da paixão violenta, qualquer que esta seja.
O movimento romântico, na arte, na literatura e na política, está
ligado a essa maneira subjetiva de julgar-se os homens, não como membros de uma
comunidade, mas como objetos de contemplação esteticamente encantadores. Os
tigres são mais belos do que as ovelhas, mas preferimos que estejam atrás de
grades. O romântico típico remove as grades e delicia-se com os saltos
magníficos com que o tigre aniquila as ovelhas. Incita os homens a imaginar que
são tigres e, quando o consegue, os resultados não são inteiramente agradáveis.
Contra as formas mais loucas do subjetivismo nos tempos modernos
tem havido várias reações. Primeiro, uma filosofia de semicompromisso, a
doutrina do liberalismo, que procurou delimitar as esferas relativas ao governo
e ao indivíduo. Isso começa, em sua forma moderna, com Locke, que é tão
contrário ao "entusiasmo" - o individualismo dos anabatistas como à
autoridade absoluta e à cega subserviência à tradição. Uma rebelião mais
extensa conduz à doutrina do culto do Estado, que atribui ao Estado a posição
que o Catolicismo atribuía à Igreja, ou mesmo, às vezes, a Deus. Hobbes,
Rousseau e Hegel representam fases distintas desta teoria, e suas doutrinas se
acham encarnadas, praticamente, em Cromwell, Napoleão e na Alemanha moderna. O
comunismo, na teoria, está muito longe dessas filosofias, mas é conduzido, na
prática, a um tipo de comunidade bastante semelhante àquela e que resulta a
adoração do Estado.
Durante todo o transcurso deste longo desenvolvimento, desde 600
anos antes de Cristo até aos nossos dias, os filósofos têm-se dividido entre
aqueles que querem estreitar os laços sociais e aqueles que desejam
afrouxá-los. A esta diferença, acham-se associadas outras. Os partidários da
disciplina advogaram este ou aquele sistema dogmático, velho ou novo, chegando,
portanto a ser, em menor ou maior grau, hostis à ciência, já que seus dogmas
não podiam ser provados empiricamente. Ensinavam, quase invariavelmente, que a
felicidade não constitui o bem, mas que a "nobreza" ou o
"heroísmo" devem ser a ela preferidos. Demonstravam simpatia pelo que
havia de irracional na natureza humana, pois acreditavam que a razão é inimiga
da coesão social. Os partidários da liberdade, por outro lado, com exceção dos
anarquistas extremados, procuravam ser científicos, utilitaristas,
racionalistas, contrários à paixão violenta, e inimigos de todas as formas mais
profundas de religião. este conflito existiu, na Grécia, antes do aparecimento
do que chamamos filosofia, revelando-se já, bastante claramente, no mais antigo
pensamento grego. Sob formas diversas, persistiu até aos nossos dias, e
continuará, sem dúvida, a existir durante muitas das eras vindouras.
É claro que cada um dos participantes desta disputa como em tudo
que persiste durante longo tempo - tem a sua parte de razão e a sua parte de
equívoco. A coesão social é uma necessidade, e a humanidade jamais conseguiu,
até agora, impor a coesão mediante argumentos meramente racionais. Toda
comunidade está exposta a dois perigos opostos: por um lado, a fossilização,
devido a uma disciplina exagerada e um respeito excessivo pela tradição; por
outro lado, a dissolução, a submissão ante a conquista estrangeira, devido ao
desenvolvimento da independência pessoal e do individualismo, que tornam
impossível a cooperação. Em geral, as civilizações importantes começam por um
sistema rígido e supersticioso que, aos poucos, vai sendo afrouxado, e que
conduz, em determinada fase, a um período de gênio brilhante, enquanto perdura
o que há de bom na tradição antiga, e não se desenvolveu ainda o mal inerente à
sua dissolução. Mas, quando o mal começa a manifestar-se, conduz à anarquia e,
daí, inevitavelmente, a uma nova tirania, produzindo uma nova síntese, baseada
num novo sistema dogmático. A doutrina do liberalismo é uma tentativa para
evitar essa interminável oscilação. A essência do liberalismo é uma tentativa
no sentido de assegurar uma ordem social que não se baseie no dogma irracional,
e assegurar uma estabilidade sem acarretar mais restrições do que as
necessárias à preservação da comunidade. Se esta tentativa pode ser bem
sucedida, somente o futuro poderá demonstrá-lo.
Notas
1. Essa opinião não era desconhecida em
tempos anteriores: foi exposta, por exemplo, na Antígona, de Sófocles. Mas, antes
dos estóicos, eram poucos os que a mantinham.
2. Eis aí porque o russo moderno não acha
que deva obedecer mais ao materialismo dialético do que a Stalin.
In Russell, B. (1977): História
da Filosofia Ocidental, Rio de Janeiro: Cia. Editora Nacional.
segunda-feira, 28 de maio de 2012
Necromância Festival - 30/06/2012 E.V.
Será realizado pela Lua Negra Dist. Prod. no dia 30/06/2012
E.V. o Necromância Festival em Campo Bom/RS. Sodamned (Jaraguá do Su/RS),Brutal Morticinio (Novo
Hamburgo/RS), Soul Torment (Campo Bom/RS) e Abate Macabro (Bento Gonçalves/RS)
se apresentarão a partir das 22:00 hrs no Clube Avenida.
30/06/2012 E.V.
R$ 10,00
Clube Avenida
Av. dos Estados, nº 1435
Centro – Campo Bom/RS
Referência: “Próximo à Rodoviária e ao CEI”
domingo, 27 de maio de 2012
Screams of Hell Underground - 07/07/2012 E.V.
Mais uma grande celebração será realizada em São Paulo o que mostra que
esse intervalo de shows de bandas gringas beneficia nosso underground. Screams of Hell Underground
ocorrerá no dia 07/07/2012 E.V. com as hordas Devilish, lançando o CD “Through
the Gates of Death”, Black Achemoth, Aeternus Odium e Throne.
Screams of Hell Underground
R$ 15,00
Local: Fofinho Rock Club
Av. Celso Garcia, 2728
Belenzinho – São Paulo/SP
R$ 15,00
Local: Fofinho Rock Club
Av. Celso Garcia, 2728
Belenzinho – São Paulo/SP
Black Achemoth - “Under the Veil of Darkness" Prévia
Black Achemoth lançou um video no youtube com uma prévia do que será o seu novo trabalho “Under the Veil of Darkness" que será lançado em breve.
Acompanhe a banda através do Facebook e Myspace.
sexta-feira, 25 de maio de 2012
Bertrand Russell - A Filosofia entre a Religião e a Ciência - Parte 03
A Filosofia entre a Religião e a Ciência
Parte 03
Durante o período de obscuridade, desde o fim do século V até a
metade do século XI, o mundo romano ocidental sofreu algumas transformações
interessantes. O conflito entre o dever para com Deus e o dever para com o
Estado, introduzido pelo Cristianismo, adquiriu o caráter de um conflito entre
a Igreja e o rei. A jurisdição eclesiástica do Papa estendia-se sobre a Itália,
França, Espanha, Grã-Bretanha e Irlanda, Alemanha, Escandinávia e Polônia. A
princípio, fora da Itália e do sul da França foi muito leve o seu controle
sobre bispos e abades, mas, desde o tempo de Gregório VII ( fins do século XI
), tornou-se real e efetivo. Desde então o clero, em toda a Europa Ocidental,
formou uma única organização, dirigida por Roma, que procurava o poder
inteligente e incansavelmente e, em geral, vitoriosamente, até depois do ano
1300, em seus conflitos com os governantes seculares. O conflito entre a Igreja
e o Estado não foi apenas um conflito entre o clero e os leigos; foi, também,
uma renovação da luta entre o mundo mediterrâneo e os bárbaros do norte. A
unidade da Igreja era um reflexo da unidade do Império Romano; sua liturgia era
latina, e os seus homens mais proeminentes eram, em sua maior parte, italianos,
espanhóis ou franceses do sul. Sua educação, quando esta renasceu, foi
clássica; suas concepções da lei e do governo teriam sido mais compreensíveis
para Marco Aurélio do que para os monarcas contemporâneos. A Igreja
representava, ao mesmo tempo, continuidade com o passado e com o que havia de
mais civilizado no presente.
O poder secular, ao contrário, estava nas mãos de reis e barões de
origem teutônica, os quais procuravam preservar, o máximo possível, as
instituições que haviam trazido as florestas da Alemanha. O poder absoluto era
alheio a essas instituições, como também era estranho, a esses vigorosos
conquistadores, tudo aquilo que tivesse aparência de uma legalidade monótona e
sem espírito. O rei tinha de compartilhar seu poder com a aristocracia feudal,
mas todos esperavam, do mesmo modo, que lhes fosse permitido, de vez em quando,
uma explosão ocasional de suas paixões em forma de guerra, assassínio, pilhagem
ou rapto. É possível que os monarcas se arrependessem, pois eram sinceramente
piedosos e, afinal de contas, o arrependimento era em si mesmo uma forma de
paixão. A Igreja, porém, jamais conseguiu produzir neles a tranqüila
regularidade de uma boa conduta, como a que o empregador moderno exige e, às
vezes, consegue obter de seus empregados. De que lhes valia conquistar o mundo,
se não podiam beber, assassinar e amar como o espírito lhes exigia? E por que
deveriam eles, com seus exércitos de altivos, submeter-se ás ordens de homens
letrados, dedicados ao celibato e destituídos de forças armadas? Apesar da
desaprovação eclesiástica, conservaram o duelo e a decisão das disputas por
meio das armas, e os torneios e o amor cortesão floresceram. Às vezes, num
acesso de raiva, chegavam a matar mesmo eclesiásticos eminentes.
Toda a força armada estava do lado dos reis, mas, não obstante, a
Igreja saiu vitoriosa. A Igreja ganhou a batalha, em parte, porque tinha quase
todo o monopólio do ensino e, em parte, porque os reis viviam constantemente em
guerra. uns com os outros; mas ganhou-a, principalmente, porque, com muito
poucas exceções, tanto os governantes como ó povo acreditavam sinceramente que
a Igreja possuía as chaves do céu. A Igreja podia decidir se um rei devia
passar a eternidade no céu ou no inferno; a Igreja podia absolver os súditos do
dever de fidelidade e, assim, estimular a rebelião. Além disso, a Igreja
representava a ordem em lugar da anarquia e, por conseguinte, conquistou o
apoio da classe mercantil que surgia. Na Itália, principalmente, esta última
consideração foi decisiva.
A tentativa teutônica .de preservar pelo menos uma independência.
parcial da Igreja manifestou-se não apenas na política, mas, também, na arte,
no romance, no cavalheirismo e na guerra. Manifestou-se muito pouco no mundo
intelectual, pois o ensino se achava quase inteiramente nas mãos do clero. A
filosofia explícita da Idade Média não é um espelho exato da época, mas apenas
do pensamento de um grupo. Entre os eclesiásticos, porém - principalmente entre
os frades franciscanos - havia alguns que, por várias razões, estavam em
desacordo com o Papa. Na Itália, ademais, a cultura estendeu-se aos leigos
alguns séculos antes de se estender até ao norte dos Alpes. Frederico II, que
procurou fundar uma nova religião, representa o extremo da cultura antipapista;
Tomás de Aquino, que nasceu no reino de Nápoles, onde o poder de Frederico era
supremo, continua sendo até hoje o expoente clássico da filosofia papal. Dante,
cerca de cinqüenta anos mais tarde, conseguiu chegar a uma síntese, oferecendo
a única exposição equilibrada de todo o mundo ideológico medieval.
Depois de Dante, tanto por motivos políticos como intelectuais, a
síntese filosófica medieval se desmoronou. Teve ela, enquanto durou, uma
qualidade de ordem e perfeição de miniatura: qualquer coisa de que esse sistema
se ocupasse, era colocada com precisão em relação com o que constituía o seu
cosmo bastante limitado. Mas o Grande Cisma, o movimento dos Concílios e o
papado da renascença produziram a Reforma, que destruiu a unidade do
Cristianismo e a teoria escolástica de governo que girava em torno do Papa. N o
período da Renascença, o novo conhecimento, tanto da antigüidade como da
superfície da terra, fez com que os homens se cansassem de sistemas, que
passaram a ser considerados como prisões mentais. A astronomia de Copérnico
atribuiu á terra e ao homem uma posição mais humilde do que aquela que haviam
desfrutado na teoria de Ptolomeu. O prazer pelos f atos recentes tomou o lugar,
entre os homens inteligentes, do prazer de raciocinar, analisar e construir
sistemas. Embora a Renascença, na arte, conserve ainda uma determinada ordem,
prefere, quanto ao que diz respeito ao pensamento, uma ampla e fecunda
desordem. Neste sentido, Montaigne é o mais típico expoente da época.
Tanto na teoria política como em tudo o mais, exceto a arte, a
ordem sofre um colapso. A Idade Média, embora praticamente turbulenta, era
dominada, em sua ideologia, pelo amor da legalidade e por uma teoria muito
precisa do poder político. Todo poder procede, em última análise, de Deus; Ele
delegou poder ao Papa nos assuntos sagrados, e ao Imperador nos assuntos
seculares. Mas tanto o Papa como o Imperador perderam sua importância durante o
século XV. O Papa tornou-se simplesmente um dos príncipes italianos, empenhado
no jogo incrivelmente complicado e inescrupuloso do poder político italiano. As
novas monarquias nacionais na França, Espanha e Inglaterra tinham, em seus
próprios territórios, um poder no qual nem o Papa nem o Imperador podiam
interferir. O Estado nacional, devido, em grande parte, à pólvora, adquiriu uma
influência sobre o pensamento e o modo de sentir dos homens, como jamais
exercera antes - influência essa que, progressivamente, destruiu o que restava
da crença romana quanto à unidade da civilização.
Essa desordem política encontrou sua expressão no Príncipe, de
Maquiavel. Na ausência de qualquer princípio diretivo, a política se
transformou em áspera luta pelo poder. O Príncipe dá conselhos astutos quanto à
maneira de se participar com êxito desse jogo. O que já havia acontecido na
idade de ouro da Grécia, ocorreu de novo na Itália renascentista: os freios
morais tradicionais desapareceram, pois eram considerados como coisa ligada à
superstição; a libertação dos grilhões tornou os indivíduos enérgicos e
criadores, produzindo um raro florescimento do gênio mas a anarquia e a traição
resultantes, inevitavelmente, da decadência da moral, tornou os italianos
coletivamente impotentes, e caíram, como os gregos, sob o domínio de nações
menos civilizadas do que eles, mas não tão destituídas - de coesão social.
Todavia, o resultado foi menos desastroso do que no caso da
Grécia, pois as nações que tinham acabado de chegar ao poder, com exceção da
Espanha, se mostravam capazes de tão grandes realizações como o havia sido a
Itália.
Do século XVI em diante, a história do pensamento europeu é
dominada pela Reforma. r1 Reforma foi um movimento complexo, multiforme, e seu
êxito se deve a numerosas causas. De um modo geral, foi uma revolta das nações
do norte contra o renovado domínio de Roma. A religião fora a força que
subjugara o Norte, mas a religião, na Itália, decaíra: o papado permanecia como
uma instituição, extraindo grandes tributos da Alemanha e da Inglaterra, mas
estas nações, que eram ainda piedosas, não podiam sentir reverência alguma para
com os Bórgias e os Médicis, que pretendiam salvar as almas do purgatório em
troca de dinheiro, que esbanjavam no luxo e na imoralidade. Motivos nacionais
motivos econômicos e motivos, religiosos conjugaram-se para fortalecer a
revolta contra Roma. Além disso, os príncipes logo perceberam que, se a Igreja
se tornasse, em seus territórios, simplesmente nacional, eles seriam capazes de
dominá-la, tornando-se, assim, muito mais poderosos, em seus países, do que jamais
o haviam sido compartilhando o seu domínio com o Papa. Por todas essas razões,
as inovações teológicas de Lutero foram bem recebidas, tanto pelos governantes
como pelo povo, na maior parte da Europa Setentrional.
A Igreja Católica procedia de três fontes. Sua história sagrada
era judaica; sua teologia, grega, e seu governo e leis canônicas, ao menos
indiretamente, romanos. A Reforma rejeitou os elementos romanos, atenuou os
elementos gregos e fortaleceu grandemente os elementos judaicos. Cooperou, assim,
com as forças nacionalistas que estavam desfazendo a obra de coesão nacional
que tinha sido levada a cabo primeiro pelo Império Romano e, depois, pela
Igreja Romana. Na doutrina católica, a revelação divina não terminava na
sagrada escritura, mas continuava, de era em era, através da Igreja, à qual,
pois, era dever do indivíduo submeter suas opiniões pessoais. Os protestantes,
ao contrário, rejeitaram a Igreja como veículo da revelação divina; a verdade
devia ser procurada unicamente na Bíblia, que cada qual podia interpretar à sua
maneira. Se os homens diferissem em sua interpretação, não havia nenhuma
autoridade designada pela divindade que resolvesse tais divergências. Na
prática, o Estado reivindicava o direito que pertencera antes à Igreja - mas isso
era uma usurpação. Na teoria protestante, não devia haver nenhum intermediário
terreno entre a alma e Deus.
Assinar:
Postagens (Atom)