domingo, 3 de janeiro de 2010

Entrevista Miasthenia




Por: George Ederson
Junho de 2006

SDZ: Saudações! É uma honra tê-los em nossas páginas. Para iniciar gostaria de pedir uma avaliação sua sobre o negro underground do todo o país levando em consideração todas as mudanças ocorridas desde que a horda surgiu.

Thormianak: Salute irmão!! Acredito que o Black Metal está da mesma forma que a nossa sociedade contemporânea,decadente, não vejo muita coisa interessante no estilo (musicalmente falando) hoje em dia nem aqui e nem fora deste país. Muitas das bandas que ouço e aprecio são dos anos 80 ou da primeira metade dos anos 90, claro que sempre existem exceções, mas de um modo geral acho os trabalhos de hoje muito similares aos de bandas antigas na cena. Ideologicamente falando, os Black Metalers se enveredaram por vários caminhos dentro de temáticas obscuras e polêmicas, de certo, isso fez um diferencial dentro daquilo que se tinha como “verdade” para o estilo, mas ao mesmo tempo dividiu e gerou confusões entre os próprios, cada grupo reivindicando a “verdade absoluta” para si. Acho que isto é um reflexo do tempo e da exposição que o estilo teve/tem em alguns lugares, e que se prosseguir desta forma com certeza a banalidade será ponto comum dentro do Black Metal.

SDZ: Você consideraria dizer que hoje existe muito mais profissionalismo no Black Metal do que compromisso com a real ideologia?

Thormianak: Bom... Depende um pouco do que você quer chamar de profissionalismo, e colocarei aqui minha impressão sobre o nosso cenário, que é o que realmente me interessa. Eu realmente não conheço nenhuma banda de Black Metal brasileira profissional, nenhuma delas é realmente sustentada por gravadoras, ou mesmo consegue sobreviver de cachês de shows e vendas de Cd’s. A maioria mal tem dinheiro para pagar os ensaios, comprar palhetas de guitarra ou realizar uma gravação ideal. Por isso desconheço tal profissionalismo na cena. Desconheço a banda de Black Metal brasileira que já vendeu cds suficientes para que seus membros pudessem parar de trabalhar em algum emprego de bosta... Talvez você queira falar sobre o profissionalismo dos organizadores de shows que fazem de tudo pra ganhar um trocado fazendo shows gringos a toda hora e colocando equipamento abaixo da média em lugares “meia-boca”, tratando as bandas de abertura daqui como lixo. Ou também quem sabe esse profissionalismo se encontre nas gravadorazinhas de fundo de quintal que sacaneiam as bandas sonegando informações e metendo o pau nas próprias bandas que fazem parte do cast, cagando e andando pra a cena nacional e ganhando muita grana trocando cds nacionais por gringos e tendo lucros de até 300%... Ai sim, concordo com você, esse tipo de “profissionalismo” acaba com qualquer tipo de ideologia. Mas pensando bem, dentro da “ideologia” Black Metal, se fala muito em misantropia e coisas do tipo??, em fuder tudo e todos, então partindo deste pressuposto, estes vermes estão apenas fazendo na prática tudo aquilo que se prega na teoria.

SDZ: Após anos do lançamento do Split Cd com Songe D´enfer, como anda a divulgação deste trabalho, ainda existe a possibilidade dos guerreiros adquirirem este grande artefato?

Thormianak: Acredito que sim, a Evil Horde ainda deve ter algumas cópias, mas não sabemos ao certo, pois não temos mais nenhum contato com tal gravadora. Temos a idéia de relançar este trabalho, ainda estamos pensando de que maneira será, vamos ver o que o futuro nós colocará pela frente.

SDZ: A Miasthenia se encontra satisfeita com o trabalho feito pela Somber Music?

Thormianak: O mínimo que a gravadora se propôs a fazer, ela o fez, portanto, neste ponto sim estamos satisfeitos.

SDZ: O cristianismo vem tentando apagar todos os vestígios do paganismo no mundo todo, assim como fizeram na Europa, fizeram na América. Você considera que o século “XVI” representou para nós uma segunda inquisição onde destruíram parte de nossa história? Foi essa a idéia transmitida no álbum “XVI”?

Hécate: Acredito que o século XVI foi um momento de confrontos importantes em nossa história ao revelar a resistência pagã e suas guerras contra a cristandade. O álbum “XVI” foi também uma tentativa de relembrar esse confronto, de declarar abertamente a resistência e a persistência do paganismo, para que toda a cristandade saiba que ela não suficientemente poderosa para sufocar o paganismo. Somos contra a história tradicional escrita por cristãos que buscam retratar de maneira conveniente a supremacia da cristandade. O “XVI” revela a nossa versão da história de maneira poética e ritual.

SDZ: Como anda a divulgação de seus trabalhos fora do país? A temática abordada pela horda, direcionada principalmente para o paganismo sul-americano, tem sido considerável na divulgação no exterior?

Thormianak: Não temos muita idéia sobre a divulgação dos artefatos no exterior. Sabemos que na América Latina estamos razoavelmente conhecidos, já que temos alguns contatos, e também saímos em algumas publicações especializadas e em coletâneas. Mas em outras partes do mundo, realmente é nebuloso. Temos apenas conhecimento de uma banda na Turquia que leva covers do Miasthenia, e alguns bons contatos na Romênia, Canadá e Singapura. Mas realmente fica difícil rolar algo nestes países cantando em português.

SDZ: É comum encontrarmos hordas Norueguesas e Finlandesas que traduzem suas letras, que são cantadas em seu idioma, para o inglês possibilitando maior compreensão no exterior e não dificultando tanto na divulgação. Atualmente aqui no Brasil se encontra uma grande quantidade de hordas que cantam em nosso idioma. Existe alguma preocupação da parte de vocês em traduzir suas letras nos encartes para facilitar a divulgação fora?

Thormianak: Preocupação talvez não, pois não somos uma banda comercial, não existindo preocupação em estar na mídia, ou em fazer turnês na Europa ou coisas do tipo, realmente não temos muito interesse em tocar nestes lugares... Se algum dia isso puder acontecer será realmente do nosso jeito. Aqui as bandas gringas são tratadas com semi-deuses, com direito a groupies, drogas da melhor qualidade e coisas realmente que estão além da nossa realidade. O Miasthenia está a altura de qualquer banda do mundo, aqui ou no “primeiro mundo” então não iremos tocar em qualquer buraco na Europa só para constar no “currículo”, não existe esta possibilidade, por isso “traduzir” as letras pode acontecer ou não, mas se for feita, será para que as pessoas sérias fora do Brasil consigam pelo menos entender a nossa idéia, apenas para isso.

SDZ: No que diz respeito a livros editados sobre o Paganismo de nossa região, você acha que existe um trabalho rico em conhecimento e que possa ser explorado pelo público Black Metal de nosso país, ou ainda falta muito o que documentar? Você poderia citar alguns bons livros onde os guerreiros possam pesquisar mais sobre nosso Paganismo Ancestral?

Hécate: Dentre os livros que mais aprecio destacaria o “Inferno Atlântico” e o “O Diabo e a Terra de Santa Cruz” de Laura de Mello e Souza, a “Heresia dos Índios” de Ronaldo Vainfas, “O selvagem e o Novo Mundo” de Klaas Woortamann. Todos eles revelam a resistência pagã e as maneiras como a cristandade se projetou na América através da demonização e extirpação dos saberes e práticas indígenas.

SDZ: Você como apoiadora ao movimento das Guerrilhas latino-americana acredita que um dia os guerreiros do Black Metal de nossa região possam se organizar e fazer da cena extrema underground uma verdadeira guerra onde possamos lutar por nossas ideologias e culturas antigas, ou você acha que a cena ainda está muito ligada a futilidades estilísticas?

Hécate: Não acredito que a cena Black Metal possa se converter num movimento organizado em prol de um único ideal. A discórdia predomina. Só acredito no Metal , feito com qualidade e inspiração, ele sim é nossa arma na guerra contra a cristandade.

SDZ: A Miasthenia participou do tributo ao Rotting Christ denominado “An Evil Existence For Rotting Christ” com o hino “Visions of the Dead Lovers”. O que você achou do resultado final desse trabalho? Qual sua opinião pessoal sobre Rotting Christ?

Thormianak: Satisfatório. Existem neste artefato várias versões que realmente ficaram muito boas!! Não tivemos tempo suficiente para fazer uma boa gravação, gastamos apenas quatro horas para gravar, mixar e masterizar, pois tínhamos pouco tempo para entregar o material para a gravadora. E por algum motivo que desconhecemos, a coletânea ficou ainda “arquivada” por 2 anos ou mais, finalmente saindo em 2004 e.v. Para nós foi um honra fazer parte deste tributo! Somos apreciadores dos trabalhos mais antigos do Rotting Christ, mas de forma nenhuma desmerecemos sua fase atual, afinal cada banda sabe onde quer chegar com suas idéias.

SDZ: Vocês alteraram o logo duas vezes nos últimos trabalhos, acrescentando e retirando os detalhes recém acrescentados. Quais os motivos dessas mudanças?

Thormianak: Queríamos tornar o logo um pouco mais simples e objetivo, já que a maioria dos zines e cartazes de shows são sempre feitos através de xerox, e isso acabava deturpando demais a arte.

SDZ: A quantas anda o Mictian Zine? Pretende mesmo trabalhar com uma versão na Web?

Hécate: Infelizmente não tenho tempo suficiente para me dedicar a essa publicação, quem sabe futuramente. Tenho me dedicado mais ao Miasthenia e às suas novas composições.

SDZ: A Miasthenia hoje é uma das hordas de Black Metal que mais figura nas páginas das revistas grandes em nosso país. Como você avalia a situação da imprensa underground atualmente, rincipalmente os zines impressos? Você acha que esta arte sobreviverá a grandes revistas e webzines? Como fazer para que os velhos zines consigam um pouco mais de apoio?

Thormianak: Bom... Aparecemos em algumas raras revistas somente em comentários de shows ou dos Cds lançados pela banda. As entrevistas são raras, somente duas foram publicadas desde 2002, até porque nós somos uma banda que investe muito pouco em seus contatos. Quanto aos zines e publicações similares, eu sou bastante categórico, já houveram melhores, com mais conteúdo. No final dos 80 e inicio dos 90 existiam muitos zines de ótima qualidade, hoje acho um pouco fraco este segmento, às vezes me pego lendo entrevistas de zines antigos e sinto que eram bem mais interessantes. Não creio que os zines morram por causa da web, mas acredito que para sua sobrevivência eles precisem trazer mais informações e qualidade gráfica, sem fugir do underground. O “zineiro” é por si só um batalhador que corre atrás de tudo praticamente sozinho. Às vezes isso atrapalha, colocando vários empecilhos para a formatação do artefato. Acho que desse modo é muito difícil trabalhar . Criar uma pequena equipe de colaboradores para que se possa chegar num bom resultado seria o ideal.

SDZ: Todos sabem que a Miasthenia é uma das maiores hordas nacionais. Como anda a possibilidade da horda se apresentar fora do país? Os outros países da América do Sul estão bem próximos se comparado a Europa, possuindo alguns uma considerável cena Black Metal, vocês pretendem um dia nos países vizinhos? O que acha da cena Black Metal Sul-Americana?

Thormianak: Estamos sempre em contato com o pessoal do Alerta Subterrânea na Bolívia, cogitamos algumas vezes em tocar por lá, mas ainda não temos nada de concreto. Gostaríamos de tocar em toda a América Latina, seria tour de nossos sonhos!! Talvez possamos realizar isto um dia!! Os problemas sempre aparecem, pois como não somos uma banda profissional, não possuímos uma “escala” de shows ou datas pré-marcadas, não temos ninguém, além de nós mesmos, que tenha tempo ou vontade para trabalhar as coisas neste sentido, por isso se torna muito mais difícil agendar qualquer tipo de celebração. Conheço algumas ótimas bandas Latino- Americanas mas nem todas são de Black Metal, pois aprecio muito o Heavy Metal latino americano em geral. Posso citar Mortem, Nahual, V8, Kraniun, 1917, Hermética, Templo Negro, Angeles del Infierno, Pentagram, Necrosis, Sabaoth, Bendesar, Baxaxa, Legiòn, Paganus Doctrina entre muitas outras. Na América latina se faz um tipo de Metal diferenciado do resto do mundo, e eu tenho muito orgulho disso!!

SDZ: No Brasil atualmente são muitas as hordas que abordam em suas obras temas ligados a cultura Pagã de nossos ancestrais. Dos outros países da América Latina, o Brasil é o que possui a cena mais expressiva, mas em sua opinião pessoal, quais outras hordas da América do Sul que se destacam e abordam temas pagãos?

Thormianak: De todas as que existem vou citar o Mythological Cold Towers, por saber que se trata realmente de pessoas com muita seriedade neste sentido, conhecendo e admirando o seu trabalho desde o inicio, contando hoje, no posto de baterista no Miasthenia o próprio Hamon, um dos fundadores do MCT.

SDZ: Existem muitas hordas nos últimos anos com o verdadeiro orgulho pagão sul-americano, mas o que você acha da utilização do Hino Nacional Brasileiro e da exaltação a Bandeira Nacional? Qual a posição da Miasthenia? Você não acha que estes são símbolos políticos?

Thormianak/Hecáte: Hino Nacional? Achamos uma idéia no mínimo infantil, parece mais adequado a uma colação de grau ou formatura de oitava série!! Ou quem sabe para a abertura de uma partida de futebol!!. Black Metal é algo completamente diferente de qualquer idéia de nacionalismo barato e conservador, de idéias políticas positivistas. Nós somos totalmente contra qualquer coisa que traga lemas positivistas como o lema “ordem e progresso” expressa na bandeira, só reflete um conservadorismo do qual não fazemos parte. Somos a favor do caos!! Que porra é essa de criancinhas cantando o hino? Meu hino se chama “Black Vomit” (Sarcófago) esse sim pode botar em todos os shows!!

SDZ: Pra finalizar... Você tem o conhecimento que a Miasthenia possui muitos admiradores em todas as partes do país, incluindo o Nordeste. Quando uma turnê por esses lados vai dar certo? A parceria entre as hordas tem sido uma saída para vencer essas barreiras, você não acha?

Thormianak: Sim, sabemos que temos um grande numero de apoiadores no Norte/Nordeste, e várias vezes tentamos arranjar um show nesses lugares, mas nunca tivemos o respaldo suficiente para isso. Ainda esperamos um dia poder fazê-lo! Não depende só de nós, existem alguns empecilhos para realizar shows em lugares tão distantes. Esse lance de parceria entre bandas quem sabe algum dia possa rolar. Tudo é incerto.

SDZ: Bem, queria te agradecer pela grande entrevista que você cedeu ao Satanic Destruction Zine. Saiba que conta com um verdadeiro aliado nesta eterna guerra pelo orgulho pagão! Hail!! Deixo o espaço livre para expressar suas considerações finais aos leitores...

Thormianak: Obrigado pelo espaço cedido!!! Longa vida ao Metal Pagão Latino Americano


Nenhum comentário:

Postar um comentário