Por George Ederson
SDZ: Saudações Marcelo Miranda! É um prazer ter a horda Arum nas páginas do Satanic Destruction Zine... Desde 1998 que você vem mantendo a bandeira do real Metal Negro erguida em uma cena sem perspectiva para um futuro promissor para uma horda nacional. Como têm sido esses anos de batalhas nesse maldito underground?
Marcelo Miranda: Saudações George! É uma honra poder estar participando do Satanic Destruction Zine. Apesar das conhecidas dificuldades pela qual todos que estão de alguma forma envolvidos no underground passam, me sinto orgulhoso por continuar tocando e mantendo a minha banda na ativa.
SDZ: Vocês iniciaram suas atividades com o nome Gruunks, mudando o nome para Arum em 2000. Quais os significados de ambos os nomes e o motivo de tal mudança?
M. Miranda: Quando retornei as atividades em 1998 resolvi manter o nome de minha antiga banda, pois não sabia que rumo tomaria o som nessa nova fase. Como tudo estava bem diferente que a época lisérgica do Gruunks resolvi mudar o nome para a Arum. Esse nome foi sugerido pelo ex-baterista e o significado é “... um plano existencial paralelo, um lugar desolado e caótico, imunizado das penúrias mortais...”.
SDZ: Com quase 9 anos de estrada, 2 (duas) DT´s (“The Gruunks Age” e “Hellish Spells”) e 2 (dois) CD´s (“Fierce Everlasting Tempest” e “Inhuman Echoes From the Shadows”) e mais recentemente 1 EP “Prelude Cataclysm”, e em breve com o 3° opus saindo, uma trajetória bem ativa para os padrões nacionais em se tratando de Black Metal, você não acha? Por que ainda é tão complicado para uma horda Black Metal lançar um trabalho digno nesse país? Quais os principais méritos obtidos pela a horda com esses lançamentos?
M. Miranda: É uma trajetória ativa sim, pois nos dedicamos muito à banda nesses anos, e temos a sorte de estarmos com a mesma formação desde 2002. Mas creio que se não tivesse atrasos nos lançamentos talvez teríamos mais Cds lançados, porém não tenho o que reclamar, o importante é que tudo foi feito de forma natural e honesta. O maior problema de uma banda lançar algo digno é a questão financeira mesmo, e a falta de apoio ao metal feito em nosso país. Com certeza têm muitos que apóiam, mas sabemos que o apoio maior é para as bandas vindas de fora, isso por todos, gravadoras, revistas, publico....
SDZ: A Arum lançou o debut CD pela Demise Records, mas acabou ficando por aí mesmo, o que aconteceu para não continuarem com o selo?
M. Miranda: O selo não correspondeu com nossas expectativas.
SDZ: Creio que esse caso da Arum, com problemas de satisfação com o selo não foi um caso isolado e hoje tem se tornado bem comum. Vejo frequentemente hordas reclamarem de insatisfação quanto aos seus respectivos selos e procurando mais de que nunca lançar seus trabalhos por selos estrangeiros ou de forma independente. Há alguns anos atrás isso não era tão comum, por que em acontecido tão frequentemente? Isso já era previsto em sua opinião?
M. Miranda: Nada vai ser 100%, o ideal então é ver o beneficio que você como banda vai ter quando assinar com um selo. Quase sempre nos primeiros trabalhos as bandas pensam exclusivamente com o coração, já os selos por mais que não assumam vêm a questão financeira. Isso está acima de qualquer ideologia, e não critico, pois racionalmente temos que separar as coisas e ver que temos custo em tudo e alguém tem que pagar. Isso eu compreendo melhor hoje, já que vejo a música como arte, faço como arte, mas hoje aceito que tem um custo para isso ser produzido e se o retorno financeiro não vem é complicado para todas as partes, e como sabemos quase sempre não vem.
SDZ: Em 2004 vocês lançaram o 2° CD “Inhuman Echoes From the Shadows” pelo selo Norte Americano KillZone Records. Como rolou o entendimento com o selo que resultaram no contrato? Porque um selo de fora? Você acha que a divulgação desse álbum aqui no Brasil foi satisfatória? Como rolou o esquema de divulgação e distribuição aqui no Brasil?
M. Miranda: Mantenho contato com Stuart, dono da KillZone desde 2001, antes dele montar o selo. Nos tornamos irmãos nesses anos, e sempre estávamos
SDZ: Atualmente a Arum está divulgando o EP “Prelude Cataclysm” que conta com 2 sons inéditos, uma regravação e um cover para “Cry Wolf” do Venom. Nesse também teremos um Vídeo Clip para o hino “Garden of Lost Souls”... Como anda a divulgação desse novo trabalho?
M. Miranda: Esse EP foi lançado quando fomos para nossa primeira tour para Europa, no fim do ano passado. Agora que estão aparecendo algumas criticas, e o EP continua sendo divulgado. Tivemos um problema por lá e o material ficou todo na Europa, então mais uma vez a divulgação por aqui será complicada. Mas a intenção do EP foi uma prévia para o nosso próximo álbum, que espero que saia esse ano.
SDZ: Lançar o trabalho por um selo estrangeiro tem suas vantagens, já que os selos nacionais têm uma divulgação até que limitada aqui no país sendo necessário a própria horda arcar com os custos de distribuição e vendas nos próprios shows. Como tem sido os trabalhos com a KillZone Records? Quais os próximos frutos a serem colhidos pela horda em um futuro breve?
M. Miranda: A KillZone está fazendo o máximo que pode para divulgar o Arum, mas sabemos que também não é fácil, mas aos poucos o reconhecimento vai aparecendo. Só o fato deles terem nos arrumado uma tour na Europa, já foi um grande feito, mesmo porque sei das condições do selo, que está crescendo mas ainda não é grande. Atualmente estão buscando outros lançamentos para crescer mais ainda e com isso seremos beneficiados e colheremos frutos no futuro com certeza.
SDZ: Observando todos os lançamentos da Arum até hoje, sendo em compilações e lançamentos oficiais a grande maioria tem sido por selos e zines de fora do país, isso mostra que vocês sempre tiveram uma boa ligação com o underground de outros países, não é verdade? Como a horda Arum tem sido aceita no mundo afora?
M. Miranda: Realmente não sei por que isso aconteceu, não foi pensado, acontecendo naturalmente. Mas lógico que o fato de termos um selo estrangeiro, facilita os contatos e divulgação pelo mundo afora. Acredito que temos uma boa aceitação, com exceção de alguns países que acho que realmente não gostam do Arum, como a Holanda, por exemplo, pois todas criticas aos nossos trabalhos vindas de lá não foram boas. Mas de forma geral e pela reação do público que entra em contato, temos boa aceitação por diversos países.
SDZ: As hordas nacionais ainda não têm trabalhado muito com esse formato de divulgação que é o Vídeo Clip, talvez por falta de meios de veiculação dos clips e falta de estrutura para filmagens, etc. Como rolou todo o processo de criação do Clip? Na sua opinião esse formato terá futuro no Metal Negro nacional algum dia?
M. Miranda: Temos um grande amigo formado em cinema, que criou a Decameron Filmes, conversando veio a idéia de fazermos um clip, e pela nossa amizade não tivemos um custo alto para isso. Fizemos um clipe simples por conta disso também, mas a idéia foi essa mostrar a banda tocando. Para mim o clipe é mais uma divulgação para uma banda. Todos formatos são válidos, desde que feitos com honestidade.
SDZ: Você pretendem lançar algo no formato DVD, ou ainda é cedo para falar nisso? Para você quais os melhores vídeos de Black Metal já lançados? (DVD, Clips, VHS, etc) Vocês pretendem em um futuro lançar um DVD ou algo semelhante?
M. Miranda: Com certeza se num futuro tivermos condições para fazer um DVD o farei com certeza. Mas precisaremos de mais shows, para termos uma execução boa e podermos registrar um grande show. Pois se lançar qualquer material ao vivo, terá que ser ao vivo, sem nenhuma correção
SDZ: Em
M. Miranda: Também estamos esperando que esse álbum seja finalmente lançado nesse, já que era para ter sido feito no ano passado, mas não temos que reclamar, pois ao invés do lançamento ganhamos uma tour pela Europa. Não tem data específica ainda para o lançamento, mas da última vez que conversei com o Stuart, ele disse que esse ano será lançado. Quanto à distribuição também não sei, seria pela Vampiria Records, mas não sei como está sendo tratado isso entre a KillZone e eles. Agora lançamento em versão nacional, no momento não tenho nenhuma previsão e nenhum selo interessado. Quanto ao novo trabalho realmente gostamos muito do resultado final. Trabalhamos intensamente durante o ano de 2005 entre composição e gravação. As músicas continuam com a mesma essência, mas muito melhores executadas do que nos álbuns anteriores, com variações de tempo, parte acústicas, contrapontos entre guitarra e baixo, enfim tudo que sempre fiz no Arum.
SDZ: Como você analisaria a evolução musical e as diferenças entre cada um de seus trabalhos? Você acha que a mudança foi mesmo tão expressiva?
M. Miranda: Essa é uma questão complicada. Com certeza a evolução musical sempre existirá, pois todos da banda estão sempre estudando e pesquisando, evoluindo como pessoas, o que reflete diretamente na banda. O que procuro manter, e sempre busquei foi a minha essência e identidade na música do Arum, a maioria das músicas continuam sendo feitas por mim, mas os outros também já contribuem com grandes idéias, pois sabem como o Arum deve ser. A banda não irá nunca se limitar, mas que tenha e preserve a personalidade. Acho que cada um vai achar se as diferenças entre os álbuns são ou não muito expressivas.
SDZ: No começo vocês tocavam Death Metal e naturalmente se desenvolveram com as raízes fincadas no Metal Negro. Darkthrone também começou dessa forma e outras como o Behemoth que começou Black Metal e hoje está musicalmente bem Death Metal. As diferenças entre os dois estilos pra vocês é tão gritante assim ou ambos tem uma forte ligação? Quais as principais hordas de Death e Black Metal ideologicamente falando, em sua opinião?
M. Miranda: Quando retomei as atividades de minha antiga banda, em 98, os membros que tocavam comigo estavam mais focados no Black Metal. Naturalmente tomamos uma raiz mais fincada no Black Metal, mas hoje em dia, acho que fazemos um pouco dos dois, e até algo mais, não me limito em relação as minhas influências. Realmente não me preocupo com isso, quero é soar como Arum. Para mim cada uma das subdivisões do Metal tem suas particularidades, mas estão todas ligadas por algum ponto. Gosto de muitas bandas de Death e Black Metal, assim como de outras vertentes.
SDZ: Atualmente o Death Metal está se distanciando do lado ideológico e só visam a musica, não estou generalizando, mas tem muita banda hoje que só pensa em tocar rápido e nada de ideologia. No Black Metal também tem muita gente que não liga nada para ideologia, que em minha opinião é o ponto crucial do estilo, só pensando em tocar da forma mais comum possível, ou seja, na que está
M. Miranda: Não nego a importância de termos ideologia, temos que ter e concordo que é importante para o Black Metal. Porém isso é uma questão extremamente particular de cada um, mesmo que por vezes possamos compartilhar com várias pessoas, o importante é cada um ter sua própria maneira de pensar. Eu nunca gostei de me prender em um só pensamento, de limitação, procuro minha evolução e busco por conhecimento sempre, e isso como disse acima irá se refletir na minha arte de alguma forma. Particularmente eu sempre coloquei a música em primeiro plano, caso o contrário eu seria escritor e não músico. E para mim o Death e Black Metal são estilos musicais também.
SDZ: Em sua opinião por que ainda existem tantas hordas que não querem ter o nome de sua horda atrelado a outros estilos que não sejam o Black Metal, como é o exemplo de hordas que possuem o som arrastado e odeiam serem chamados de Doom/Black Metal, ou hordas que possuem alguma variação de vocal voltado para o gutural e não gostam de serem chamadas de Death/Black Metal?
M. Miranda: Isso não posso responder pelas outras bandas. Acho que rótulos no fundo só servem para situar mais ou menos o estilo que as bandas procuram e como ainda não são conhecidas, se rotulam de alguma forma, mas também não tem nenhum rotulo absoluto, pois cada um tem um ponto de vista sobre isso. O Arum mesmo já foi rotulado de diversas formas, e comparado com bandas de estilos diferentes. Isso não me importa.
SDZ: Atualmente a horda está em preparativos para alguns shows no Peru e possivelmente em outros países da America Latina e EUA. Como estão os andamentos das negociações?
M. Miranda: Por enquanto nada definido, estamos afim e tivemos essa idéia, pois tenho um grande amigo no Peru e que muitos conhecem pelo apoio ao Metal, o Martin do Explosion Cerebral. Mas por enquanto ficou só na idéia, que espero que se concretize. Dai tentaríamos contatos para outros países na América do Sul. Quanto aos EUA, dai será por parte da KillZone, não sei quando dará para irmos para lá, mas um dia iremos.
SDZ: Sempre vejo hordas nacionais receberem convites para se apresentar fora do país, até em uma pequena turnê, mas acaba que devido às dificuldades ainda são poucas as que vão. O que poderia ser feito para que mais hordas nacionais possam ter essa experiência de se apresentar fora do país propagando ainda mais a maldição do Metal Negro brasileiro?
M. Miranda: O principal problema é a questão financeira, e sem um apoio fica muito complicado. O que poderia ser feito em minha opinião é o underground continuar sendo underground, mas ser mais profissional, e com isso conseguiria apoio para isso acontecer, não tem mistério.
SDZ: Em 2006 vocês tocaram em vários festivais como o “Christian Holocaust Fest”, “Odium Humani Gênesis” e no “Malefic Cold Weather Underground Festival VI”, além de outros que não fiquei sabendo. Como foi o ano de 2006 para vocês em relação as celebrações ao vivo? Quais os planos para 2007 nesse sentido, algum chance de uma passagem de vocês pelas terras nordestinas?
M. Miranda: Além desses grandes eventos, tivemos alguns outros shows, como a abertura para o Rotting Christ no Arena e o momento mais importante de nossa carreira que foi a nossa ida para a Europa no final do ano, onde tocamos na Alemanha, Austria, Eslovenia e Bélgica, junto com o Aeternus, Devilish Impressions e Darkshine. Tínhamos vários planos para esse ano de 2007 em relação a shows, inclusive o Nordeste, pois há tempos quero ir com o Arum, mas problemas particulares fizeram com que após Janeiro a banda desse uma parada em suas atividades. Mas agora em junho tudo será retomado, e esperamos contatar produtores sérios para fazer nossos próximos shows.
SDZ: Bem Marcelo, agradeço por essa entrevista, espero que tenha apreciado e que esta possa contribuir na divulgação da Arum no underground nacional. Fique a vontade para deixar sua mensagem aos leitores do SDZ Hail!!M. Miranda: Eu que agradeço George ao seu apoio ao Arum e ceder um espaço no SDZ para ajudar a nos divulgar. Aos leitores que quiserem conhecer mais sobre o Arum podem visitar nossos sites: www.arum.com.br ou www.myspace.com/arumblackmetal . Espero que um dia possamos finalmente tocar no Nordeste e conhecer de perto essa forte cena. Hails!
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